segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

BRASIL TEM 815 PRESIDIÁRIAS ESTRANGEIRAS. SEM CONTATO COM A FAMÍLIA, ELAS VIVEM EM TOTAL ABANDONO E AQUELAS QUE SÃO MÃES AINDA COPRREM O RISCO DE PERDER OS FILHOS PARA O ESTADO



Maria Clara Prates e Alessandra Mello
 

Viver sem liberdade e longe da pátria endurece ainda mais a sentença de condenação aplicada às mães bolivianas S.P., de 19 anos, e M.B., de 21, presas no Brasil por tráfico de drogas. Elas embalam seus bebês no berçário insalubre da Penitenciária Feminina Ana Maria do Couto May, em Várzea Grande, Região Metropolitana de Cuiabá (MT), e não veem saída digna para os filhos, a não ser entregá-los à guarda do Estado brasileiro. 

 
                                                                                                                         BETO NOVAES/EM/DA PRESS 
  
Nem a falta de conforto do espaço oferecido a ela na penitenciária ou a grade na janela tiram de M.B. os momentos de ternura ao lado do filho 
M.B. tem traços indígenas e um corpo que não deixou a adolescência para trás. Ela não desgruda do filho de 1 ano e 5 meses, que herdou os olhos puxados dos descendentes bolivianos. Quando foi presa em Cáceres (MT), fronteira com a Bolívia, ele tinha 3 meses. Depois de algumas tentativas bem-sucedidas de trazer droga de sua cidade, San Matias, para o Mato Grosso, para ganhar R$ 1 mil, foi descoberta. Já estava sozinha, porque o companheiro foi preso meses antes, também por tráfico, e acabou conhecendo o sentido real da palavra abandono. 

Com a família toda morando em San Matias, M.B. se desespera com a possibilidade de entregar o filho ao conselho tutelar de Cuiabá, pois não conseguiu contato com os parentes na Bolívia. “É meu único filho, não vou suportar me separar dele. Não tenho ninguém no Brasil e não sei o que fazer”, diz com olhos marejados. 

Na penitenciária de Várzea Grande, mãe condenada pode ficar com o filho até que ele completar 2 anos. O menino de M.B. tem mais sete meses de convivência com ela. Presa desde outubro de 2010, não foi julgada. Sem sentença, ela não tem nem como sonhar com dias melhores. A mulher divide o quarto com outras seis presas, mas a falta de espaço e de berços não a impede de derramar ternura enquanto troca a fralda do pequeno. Dia após dia, evita pensar em separação, que ocorre sem acompanhamento de profissional qualificado. As crianças também não têm tempo de convivência com o novo núcleo familiar antes da saída do presídio. 

Bem mais tímida e arredia, S.P. evita falar de sua vida. Com ela está o filho, de 8 meses, que tinha 1 mês quando ela foi presa também em Cáceres. Um dos poucos momentos em que ela sorri é quando  está ao lado do bebê, deixando à mostra os dois dentes de ouro. S.P. vivia em San Ignacio, na Bolívia, e transportava, de ônibus, droga para o Brasil. Ela conta que o marido é trabalhador brasileiro. Eles se conheceram quando ele era trocador de um ônibus da linha San Ignácio-Cáceres. 
“Meu marido chegou a ser preso, mas foi solto. Além deste bebê, tenho dois filhos que ficam com a família. Sonho sair daqui o mais rápido possível”, diz. A hipótese de se separar da criança nem passa pela cabeça dela, que acredita poder ser beneficiada por medida judicial com autorização para cumprimento de pena em prisão domiciliar. “Tenho um irmão em Cáceres e poderia ficar com ele, mas a legislação brasileira impede que o benefício seja concedido às mães estrangeiras.” Leia mais em
:http://www.dzai.com.br/infanciaatrasdasgrades/blog/infanciaatrasdasgrades?tv_pos_tags=criancas

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